sexta-feira, 1 de maio de 2015

Inverno

minhas folhas todas caíram
é inverno e estou nua
tecendo uma nova pele sob a atual
uma nova veste me será normal

a velha casca está pequena
cresci e continuo em expansão
aguardo a primavera serena
para vestir-me de revolução

meu novo traje trará belas flores
nas mais belas e variadas cores
e encantará a um ou dois amores

minhas raízes, móveis novamente,
me levarão onde atualmente
apenas chego quimericamente

vou encontrar-me comigo
retomar meu abrigo

abandonar a sobrevivência
assumir a plena existência

leve, livre e feliz.



terça-feira, 31 de março de 2015

Golpe de vista

No cotidiano automático e corriqueiro
Num correr de olhos acho que te vi
É só um relance, um engano passageiro
Apenas um sósia anônimo a passar por mim

Quase tropeço, mas consigo não cair
A situação inusitada até me faz sorrir
Corro no encalço do ônibus que vai sair
Consigo embarcar antes que possa partir

Na condução, sigo com o livro aberto
Rubem Alves tenta prender minha atenção
Mas o coração está aos pulos, irrequieto
Ainda enxerga a passageira ilusão

Chegou meu ponto, rapidamente desço
Acabou o intervalo cerebral continuado
Em frente sigo, mas não me esqueço
Sua lembrança permanece ao meu lado

Me assombra...

Mas é uma sombra boa

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Construção

“— Não posso fixar a hora ou o lugar. Isto já foi há muito tempo. Eu já estava no meio e ainda não sabia que tinha começado.”

(Darcy, em resposta a Elizabeth, quando ela questionou como ele começou a amá-la se ela era sempre tão incivil com ele).

Pride and prejudice. Jane Austen.



sábado, 24 de janeiro de 2015

25 de janeiro


Aqui me perco e não me acho
Me enrolo, me enrosco e não desato

São Paulo de minhas dores
São Paulo dos meus amores

Suor e sangue correm na lida
Essa vida acelerada e corrida

Permaneço trabalhando sem descanso
Sonho com silêncio e paz no remanso

Agora levo a vida nesse supremo embaraço
Falta água, falta luz, falta tudo nesse espaço

São Paulo talvez tencione me matar dos nervos
Mas, mesmo hipertensa, lhe pego pelos cabelos

Tento assim mostrar quem é que manda aqui
Mas essa cidade é pujante como nunca vi

Uma rasteira sua me coloca em meu lugar
São 461 anos de prática 'ninja' secular

Fico feliz por fazer parte desta controversa história
Mas em outras paragens é que comemorarei minha glória

Por hora, juntas seguimos, apesar do torpor
Docemente emaranhadas em desilusão, ódio e amor

sábado, 17 de janeiro de 2015

Onírico

Me sinto leve, fluída e transbordante
E até sofro de alegria acachapante

Se te olho, me rio de forma desconcertante
Presença que me dá um bem estar arrepiante

E...

Um doce torpor ao meu corpo acolhe
A contragosto a lucidez me envolve

Acordo.

Apenas em sonho sua companhia permanece
Doce recordação que à minha mente entorpece

Na realidade, a cada dia, você apenas me esquece
Em sua memória sou lembrança que fenece.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Mesclados

Seu toque caloroso

Em meu corpo sinuoso

Nosso amor espaçoso

Um prazer escandaloso

Num abraço harmonioso

Encerra-se o ato primoroso

Seu olhar
                   cobiçoso...
                                       Permanece.






 

sábado, 6 de dezembro de 2014

Recomposição

Um dia cinza, a mente clara
a ausência já não me asfixia
a solidão agora me ampara
e todo meu espírito se alivia

Planando com indiferença
a alma mais leve por estar vazia
não precisa mais pedir licença
apenas é, sem maiores avarias

A existência não-dolorida
(coisa que me era já esquecida)
me retoma de forma desmedida

E é bom não pesar tanto
a ponto de só andar cabisbaixo por aí

É bom olhar à frente, olhar avante
olhar pro futuro sentindo-se confiante

Acreditar que o bem me espera logo ali adiante...