Estava ali. Não sabia bem de que
maneira tinha chegado, ou há quanto tempo mirava o chão. Mirava também o céu,
alternava-os. Cada qual, à sua vez, preenchia o insuportável vazio que
carregava em si. E como pesa o vazio. Um nada, absurdo, tomando todos os
espaços... “Não sobra lugar pra mais nada”, concluía. Nada que viva. Nada que
viceje. O vazio vem e toma tudo. Sua vida. Sua história. Seu ar. A asma só
existe para que se curve frente à pujança do vazio. Para que não se esqueça do quão
frágil pode ser diante da necessidade tão básica e primal que é respirar. Para te lembrar de que nem isso você
controla. De verdade, você não controla nada. Flutua imerso às diversas variáveis
que delimitam os contornos da sua vida, e reage a elas da forma que pode, da
forma que dá. Nem sempre escolhe a melhor maneira, ou a mais inteligente.
Enquanto criatura humana, a falha reincidente governa grande parte de suas escolhas.
Não por falta de esforço ou inteligência. Pelo poder do hábito, segue repetindo
fórmulas que já se provaram desgastadas e inócuas. E segue sofrendo. O
sofrimento é, aliás, companhia de longa data. De novo, olha para o céu e de
novo para o chão, e busca encontrar quando, na vida, houvera um momento em que
o sofrimento não lhe acompanhasse... Não se lembrava. Certeza que houve algum,
claro! Precisava acreditar nisso. Ah!
Lembrou-se! Realmente, naqueles momentos raros, foi bom estar vivo. Pena terem sido tão fugazes... Ao menos é como
vê esses momentos em sua cabeça. Situações que demoravam a chegar e passavam
muito rápido. Situações únicas apenas resgatáveis através de vagas lembranças.
O mais era a dor. O custo. O sofrimento. Não uma dor insuportável, mas apenas
suportar. Era isso, não sorvia a vida, mormente a suportava. Em muitos dias nem
doía... Mas sempre custava, sempre. “São muitas reflexões para um
banco de praça”, pensava. E eram mesmo. Tão pesadas que o impediam de se
levantar. Deixou-se ali por muito tempo, contemplativo. Precisava superar a dor
e recuperar ao menos um pouco de leveza, para se levantar.