segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Assim como nós

"Quem tem porquê viver, suporta quase qualquer como"
Friedrich Nietzche

Talvez Nietzche estivesse errado
Antes permanecesse calado...
Ah, ali está um 'quase' bem colocado
Afinal, nem tudo há de ser tolerado

O porquê já houve, absoluto, o maior de todos
Mas o como me fez abandoná-lo
O porquê era você e o como era distante
Como manter a sanidade nesse contexto extenuante?
E suportar a idéia de não tê-lo à todo instante?
Viver junto de longe e não sucumbir à saudade sufocante?

Resisti o quanto pude
Enquanto possível, iludi-me
Nosso futuro nunca se aproximava
E em um fantasma da minha vida eu me transformava...

Então, desisti

Para poder seguir em frente
Para trilhar o meu caminho
Para não enlouquecer só mesmo em sua companhia

Abracei o passageiro luto
Lhe enterrei na memória
Hoje aprecio o fruto
Maduro
Das lembranças de nossa história



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Crisálida

Lá vem Outubro, primaveril
Minha alma ainda tão outonal...
Vislumbro uma chance, sutil
De abandonar o limbo invernal

Permanece ainda intacto meu casulo
Minhas asas ainda sendo arrematadas
Diriam, pois, que me afasto ou me anulo
Suposição pobre e pré-formatada

Não posso revelar-me de qualquer maneira
Com ajustes ainda por realizar
Fatalidades surgem de forma sorrateira
Não posso imprudentemente me arriscar

Muitas vezes já caí, admito
Até tomar a cautela por aliada
Então me aprumo, estudo e reflito
Não há por que ser apressada

Quero o primeiro voo mais bonito
Início leve de uma nova jornada



domingo, 26 de julho de 2015

Aurora

Vacilante, de meus sonhos desço
Raia o dia e com ele amanheço
Vejo um sol que desconheço
Os meus instintos obedeço

Fecho os olhos e anoiteço





sábado, 25 de julho de 2015

Renúncia supérflua

Enclausurada, persisto muda e isolada
Os limites do meu corpo como grades
Encerram minha mente transtornada

Me debato e luto, grito quanto posso
Mas meu clamor surdo nem eu mesma escuto
Tão longe da cabeça o atormentado coração
Tão oprimido no peito enquanto apanha

Há ao meu lado uma chave e não consigo alcançar
A vontade frouxa é incompetente em acionar a mão
Que se mova, que estremeça, que se rasgue
Vontade nenhuma de nada ou coisa alguma possível

Chaves e portas de nada adiantam
Esse horizonte gasto não me serve
Minha rebeldia estúpida me sabota
Rodar em círculos o meu vagar concerne

Em minha diabólica auto-inquisição ardo
Queimo imóvel em lágrimas flamejantes
Sacrifício inútil dos meus dias debaixo do sol

Doce cárcere de espinhos afiados
Envolve-me qual manto sagrado
Ricamente bordado de sangue
De dores pungentes arrematado


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Não me olhe nos olhos

Mar profundo de tribulações internas
Quem me vê em silêncio não pode imaginar
O quanto grito e me rasgo por dentro...
Na superfície: nada a me incriminar

Fujo de mim mesmo sem sair do lugar
D. Realidade, ela teima em me agarrar
Com auxílio da jornada ainda a completar
Movida pelas diversas contas a pagar

O semblante calmo esconde uma alma em tormenta
O caos em mim reverbera, se retorce intempestivo
Me atravessa suave e me orvalha a pele
Escorre pela ponta dos dedos
Marca o papel em forma de palavra

Tudo o que sou
Tudo o que de mim não sei
Poemas sem sentido, consentidos
Que ainda escreverei...

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Gatuno

Me rouba a paz e eu desatino
Fujo, me escondo, de nada adianta
Sua lembrança, qual fantasma, me persegue

Com suas mentiras me arrasta
Seus olhos me fazem promessas
Eu compro cada uma delas
Me decepciono
Eternamente purgo essa ressaca
De ti
E nunca é dor suficiente

Mitômano inconsequente
Do mal que causa, inconsciente
Nunca falseia o suficiente
Me pune e arrasa tenazmente

Eu luto e brigo comigo
Não deveria eu dar abrigo
Às memórias espectrais de ti

Só queria que sumisse de vez
Ou que ficasse de uma vez...
O "senão" é que me consome

Aos poucos

Lentamente...

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Inverno

minhas folhas todas caíram
é inverno e estou nua
tecendo uma nova pele sob a atual
uma nova veste me será normal

a velha casca está pequena
cresci e continuo em expansão
aguardo a primavera serena
para vestir-me de revolução

meu novo traje trará belas flores
nas mais belas e variadas cores
e encantará a um ou dois amores

minhas raízes, móveis novamente,
me levarão onde atualmente
apenas chego quimericamente

vou encontrar-me comigo
retomar meu abrigo

abandonar a sobrevivência
assumir a plena existência

leve, livre e feliz.



terça-feira, 31 de março de 2015

Golpe de vista

No cotidiano automático e corriqueiro
Num correr de olhos acho que te vi
É só um relance, um engano passageiro
Apenas um sósia anônimo a passar por mim

Quase tropeço, mas consigo não cair
A situação inusitada até me faz sorrir
Corro no encalço do ônibus que vai sair
Consigo embarcar antes que possa partir

Na condução, sigo com o livro aberto
Rubem Alves tenta prender minha atenção
Mas o coração está aos pulos, irrequieto
Ainda enxerga a passageira ilusão

Chegou meu ponto, rapidamente desço
Acabou o intervalo cerebral continuado
Em frente sigo, mas não me esqueço
Sua lembrança permanece ao meu lado

Me assombra...

Mas é uma sombra boa

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Construção

“— Não posso fixar a hora ou o lugar. Isto já foi há muito tempo. Eu já estava no meio e ainda não sabia que tinha começado.”

(Darcy, em resposta a Elizabeth, quando ela questionou como ele começou a amá-la se ela era sempre tão incivil com ele).

Pride and prejudice. Jane Austen.



sábado, 24 de janeiro de 2015

25 de janeiro


Aqui me perco e não me acho
Me enrolo, me enrosco e não desato

São Paulo de minhas dores
São Paulo dos meus amores

Suor e sangue correm na lida
Essa vida acelerada e corrida

Permaneço trabalhando sem descanso
Sonho com silêncio e paz no remanso

Agora levo a vida nesse supremo embaraço
Falta água, falta luz, falta tudo nesse espaço

São Paulo talvez tencione me matar dos nervos
Mas, mesmo hipertensa, lhe pego pelos cabelos

Tento assim mostrar quem é que manda aqui
Mas essa cidade é pujante como nunca vi

Uma rasteira sua me coloca em meu lugar
São 461 anos de prática 'ninja' secular

Fico feliz por fazer parte desta controversa história
Mas em outras paragens é que comemorarei minha glória

Por hora, juntas seguimos, apesar do torpor
Docemente emaranhadas em desilusão, ódio e amor

sábado, 17 de janeiro de 2015

Onírico

Me sinto leve, fluída e transbordante
E até sofro de alegria acachapante

Se te olho, me rio de forma desconcertante
Presença que me dá um bem estar arrepiante

E...

Um doce torpor ao meu corpo acolhe
A contragosto a lucidez me envolve

Acordo.

Apenas em sonho sua companhia permanece
Doce recordação que à minha mente entorpece

Na realidade, a cada dia, você apenas me esquece
Em sua memória sou lembrança que fenece.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Mesclados

Seu toque caloroso

Em meu corpo sinuoso

Nosso amor espaçoso

Um prazer escandaloso

Num abraço harmonioso

Encerra-se o ato primoroso

Seu olhar
                   cobiçoso...
                                       Permanece.