segunda-feira, 21 de março de 2011

Peleja constante

Parei

Desisti

Cansei de brigar com a alvura da folha de papel
As linhas do caderno, desertas, desafiam-me constantemente...
Encaram com desprezo o vale infértil de minha inspiração
Enquanto digladio-me com idéias que me perseguem,
Mas recusam-se a se transformar em palavras

Elas, por si, nada querem expressar ou comunicar
Não querem sair, ser vistas por ninguém nem dizer nada
Simplesmente, quem se importa?

Eu me importo!

Quero que saiam da minha cabeça e me dêem sossego...
Para isso, nem me incomoda que os versos não produzam harmoniosas rimas

Só preciso que desistam de mim
Que parem de me atormentar a razão
Que me devolvam a paz da aprazível ausência de perturbação
A serenidade que existe em não querer extrair sempre o indizível de cada coisa

Porque o indizível, por definição, é algo que não se diz...

Ausente


Tenho saudade

Das viagens que não fiz
Dos vôos que não realizei
Das terras em que não caminhei
E das pessoas que não conheci

Sinto falta das praças
Por onde ainda não passei
Das pontes que não cruzei
Dos mares que não atravessei
Dos lugares de onde não parti

Campos nos quais ainda não me perdi
Cachoeiras nas quais não me molhei
Praias por onde ainda não corri
E pores de sol que ainda não vislumbrei

Urgem-me
Chamam-me
Espreitam-me os sonhos...

Cobram-me a presença, tardia,
Mas ainda aguardada
Pois de que adianta uma bela vista,
Se em retinas humanas não for gravada?