E caminhar ao léu, demente, ao desvario,
Até onde isso poderia me levar?
Fazer do descaminho minha jornada
De erros e enganos pontuar meu mapa
Do beco sem saída fazer meu ponto de partida
Seguir não só errando, mas encarnar a falha em si
Não ‘estar errado’ mas personificar a incorreção
Colecionar desenganos e disseminar perturbação
Precipitar ao mundo minhas angústias em profusão
Sem poupar um só algoz, sem nenhum favorecimento
(Que de proteção nenhum deles faz merecimento)
Escancarar as dores e todos os seus autores
Dilacerar as feridas e também seus causadores
Presenciar, de seu desespero, os estertores
Imprimir-lhes na carne um sem-número de horrores
E se eu causasse tantas dores quantas eu senti?
E se sorrateiramente manipulasse seus passos
E, dissimuladamente, cultivasse seu tropeço
Sua queda triste e desonrosa me aliviaria?
Apagaria memórias das quais não esqueço?
Talvez eu teste alguém, um só, apenas de começo...
E veremos de que forma aumenta meu apreço
Sádico de ver pagarem, não na mesma moeda,
Mas em artigo de muito mais alto valor
Com plena fúria eviscerar-lhe os medos
E imprimir em suas faces a sombra do terror
Assim talvez aniquile de vez tais lembranças
Embalada em meus doces sonhos de vingança...